Um Tridente e um Arpão. Dois submarinos para atacar a taça
Jesus junta Jara a Saviola e Cardozo. Villas-Boas terá de confiar em HulkQuando o Benfica garantiu a conquista do 29.o campeonato da sua história, em Maio, Luís Filipe Vieira deixou o aviso: "A equipa não só é para manter, como também para reforçar." Chegámos a Agosto e o Benfica espelha, de certa forma, as palavras do presidente. Deixou sair Di María, mas reforçou-se com outras peças. Já o FC Porto enfrentou durante o Verão um processo diferente. Saiu Jesualdo Ferreira e entrou um novo treinador, que vive até agora num limbo estratégico: tem trabalhado para montar uma equipa à sua imagem, só que a construção arrancou com deficiências estruturais. Trocando por miúdos, André Villas-Boas partiu para esta época sem saber o que iria acontecer com os líderes Bruno Alves e Raul Meireles.
As duas equipas chegam por isso à semana da Supertaça em patamares distintos de preparação, o que também levará a abordagens opostas ao encontro deste sábado por parte dos dois treinadores. O Benfica de Jorge Jesus é como o Tridente, o submarino entregue na segunda-feira à Marinha portuguesa. Primeiro porque o treinador encarnado foi forçado a adaptar o sistema da época passada a uma nova realidade: sem Di María, o Benfica não tem um extremo puro, que crie desequilíbrios junto à linha. É verdade que chegaram Jara e Gaitán, dois jogadores com muito potencial, mas ambos têm um estilo de jogo que se afasta do argentino contratado pelo Real Madrid.
Assim, o mercado levou Jesus a repensar a forma de organizar a equipa no ataque. Ficou para trás o famoso 4x4x2 losango, que o técnico sempre privilegiou em todas as equipas por onde passou. E chegou o 4x3x3, com um tridente ofensivo - à partida a melhor opção para os jogadores que tem em mãos. Óscar Cardozo continua a ser a grande referência, entre os centrais, só que agora vai ter dois companheiros ao seu lado: Javier Saviola e - para já - Franco Jara.
Por outro lado, o Tridente encarnado distingue-se do Arpão - o outro submarino que Portugal irá receber num negócio que ronda os mil milhões de euros - pela fase em que se encontra. Já no Alfeite, a nova aquisição da Marinha está pronta para ser posta à prova. Tal como acontece com o Benfica: a máquina está oleada e preparada para disputar o primeiro título da época, apesar das mudanças. Prova disso é a avalanche de golos ao longo da pré-temporada - uma imagem de marca que os encarnados construíram durante a última época e que pelos vistos mantêm. Assim, é natural que o Benfica encare o encontro da Supertaça com um optimismo próprio de um campeão que se sente superior à concorrência. As dúvidas persistem apenas no que diz respeito à baliza, até agora não protegida da forma que os 8,5 milhões de euros gastos na contratação de Roberto fariam prever.
A realidade à vista de André Villas-Boas é outra. À imagem do que acontece com o submarino Arpão, cuja chegada a Portugal está prevista apenas para o final deste ano ou para o início de 2011, a equipa do FC Porto tem ainda várias reparações a fazer antes de estar pronta a funcionar a 100%. Villas-Boas foi uma aposta pessoal do presidente Pinto da Costa, mas herdou um dossiê complicado: a reconstrução de uma equipa habituada a vencer a todos os níveis.
Quando pegou nos dragões, o jovem técnico já deveria estar preparado para a probabilidade de perder Bruno Alves e Raul Meireles. Não esperava era que a indefinição quanto ao futuro de duas das maiores figuras do FC Porto actual - a par de Falcao e Hulk - persistisse até esta altura. A falta de propostas será a justificação mais plausível: Raul Meireles chegou a ser apontado ao Real Madrid e a alguns clubes franceses e alemães; no caso de Bruno Alves, o Zenit - do pouco apetecível campeonato russo - esteve quase sempre sozinho na corrida.
Villas-Boas assumiu a opção de começar a construir a nova versão do FC Porto sem nenhum deles. E a entrada de João Moutinho serviu para atenuar os efeitos da (eventual) saída de Meireles, mas os jogos de preparação provaram que o mesmo não aconteceu com Bruno Alves. A falta de garantias por parte de Sereno e Maicon faz da defesa o sector mais frágil da equipa e os rumores de que Jorge Fucile pode ser mais um a deixar o Dragão também não ajudam.
Por isso, não resta ao treinador do FC Porto outra alternativa senão montar a equipa para o encontro de sábado em torno de um arpão: Hulk. O avançado brasileiro vai ter de assumir as despesas do ataque, enquanto o resto da equipa fica numa posição mais resguardada. Sempre que tiver oportunidade, Hulk será uma lança apontada ao adversário. apostando na velocidade e no forte remate. Mas depois também terá de recolher como a corda de um arpão de pesca para ajudar nas tarefas defensivas.
Mesmo que tenha outras opções de ataque, como Falcao e Varela (que até agora não renderam), esta será a estratégia mais adequada para um FC Porto que ainda procura um equilíbrio. Por agora, para contrariar um Benfica com outros argumentos, precisa de jogar em contenção. Como um arpão.